domingo, 15 de abril de 2007

Mudan'ca, F'erias de p'ascoa

Rapidamente, algumas 'ultimas not'icias.

Essa 'ultima semana foi uma semana de f'erias, por conta da P'ascoa.Todos os alunos estrangeiros se mudaram pros novos quartos, maiores. Agora estamos realmente bem instalados, e eu ainda conto com a geladeira que a S'ilvia me deixou enquanto ela vai fazer o est'agio dela fora.

Devo comprar um computador logo, talvez mesmo nessa pr'oxima semana, e com isso vou poder acessar a Internet com uma freq"u^encia maior, espero.

Essa semana 'e tamb'em a 'ultima semana do semestre de acolhimento, e ent~ao o tem'ivel tronco comum vai come'car logo, em pouco mais de uma semana. Os brasileiros daqui dizem ser o per'iodo mais dif'icil, pela falta de costume com o m'etodo e tamb'em pelas mat'erias. Os franceses n~ao sentem isso.

Descobri a Cinemateca francesa em Paris, que tem pelo menos 4 sess~oes diarias de filmes, todos diferentes, e muitos muito legais. Fui a um piquenique de P'ascoa, num parque entre Paris e Palaiseau, muito bonito e grande, cercado por um bosque. Foi organizado pelos brasileiros daqui, da Promo'c~ao 2005. S'abado, ontem, teve um churrasco na beira do lago da X, organizado por eles tamb'em. Tinha cerveja gelada e carne de vaca, o que significa que foi mesmo um churrasco, com direito a ax'e e tudo o mais.

Terminei de ler o meu primeiro livro em franc^es!, Le Petit Prince (n~ao vou traduzir, espero que seja evidente). Ali'as, meu vocabul'ario est'a bem melhor. Vou parar de falar do meu franc^es, ele come'ca a ficar bom.

Estou com um pouco de saudade de tudo, muita saudade dos meus pais e da minha irm~a, pr'a quem s'o vou poder ligar amanh~a porque meu telefone est'a ainda bloqueado. Esta semana sonhei com a casa em que eu morei dos 4 aos 16 anos. Sonhei tamb'em com qualquer coisa relacionada com a minha fam'ilia.

domingo, 25 de março de 2007

Depois de um m^es, algumas not'icias

Bom, depois de quase um m^es sem fazer isso, vou escrever alguma coisa aqui no blog.

No tempo em que eu passei sem escrever, eu pensei um pouco sobre isso daqui. N~ao me sinto mais muito seguro do projeto que eu estabeleci, escrever no blog, contando not'icias, tudo o que acontece, coisas assim.

n`ao conseguirei expressar aqui todas as reentr^ancias da coisa, tudo o que pensei sobre isso, a racionaliza'c~ao. Mas quero dizer, apesar de tudo, que se eu deixar de escrever, que isso n`ao seja interpretado como descaso.

Eu me explico um pouco melhor. Eu sempre tive alguns problemas com comunica'c~ao escrita, e principalmente com comunica'c~ao offline. Eu acho que o tempo que eu passo escrevendo qualquer coisa 'e quase sempre muito mal-aproveitado. Ele 'e mal-aproveitado nos momentos em que eu descrevo meu cotidiano, o que eu fiz, como tudo est'a objetivamente. Tudo isso pode ser comunicado com uma dose infinitamente maior de pessoalidade `a viva-voz, 'e muito mais gostoso falar, ouvir, quando voc^e pode ter uma resposta logo depois e com todas as sutilezas, a entona'c`ao, o tom, tudo da voz da pessoa. Muito melhor quando voc^e pode ver ela, claro, mas isso nem sempre 'e mesmo poss'ivel. Mas eu n`ao gosto muito de grandes mensagens escritas.

Isso n~ao acontece, claro, quando o assunto do texto, a sua est'etica, ou qualquer caracer'istica, justifica de alguma forma seu regisro. Quando o documento apresenta um objetivo definido, um tema, sobre o qual voc^e pode come'car, desenvolver as id'eias, deixar o que voc^e quer dizer com sua marca, com sua est'etica, e depois reler, mostrar aos outros. Ou mesmo um bom poema, algo de cujo tema voc^e n~ao pode dizer mais do que "'e sobre mim", mas o registro se justifica mesmo assim. Aquilo constitui um documento, um exerc'icio que vale o esfor'co. Eu gostei muito do meu 'ultimo texto, porque ele 'e um bom exemplo disto, expressa id'eias e sentimentos que estavam por a'i, na minha cabe'ca, e que est~ao agora registrados de uma forma que me agrada, apresentados `a quem queria conhec^e-las. O Daniel disse que esse 'e o texto de que ele mais gostou, e acho que ele quis dizer algo parecido com isso.

Acho que eu fui claro. Essas id'eias s~ao pessoais, de qualquer forma. S'o pe'co a compreens~ao, pois a regularidade das postagens pode ser alterada por conta disso. Fiz um bom esfor'co a Villeneuve para mant^e-la. Aqui, ajudado pela desculpa de que n~ao tinha computador (que 'e um pouco de desculpa e um pouco de dificuldade, mesmo), e de que tenho usado bastante o tempo dispon'ivel (o que pode ser mais ou menos verdade, dependendo somente da defini'c`ao de "usar o tempo" - e a minha tem mudado bastante por aqui), acabei desbundando.

Coment'arios `a parte, vamos l'a. Vou tentar falar um pouco de como est'a tudo por aqui, desde a minha chegada, e um pouco sobre o que eu vi aqui, e como 'e tudo.

Estou fazendo muitas aulas de frenc^es, ainda, e elas come'cam a se tornar um pouco improdutivas. Chegou um momento em que a aula j'a n`ao ajuda muito, e situa'c~oes reais de comunica'c~ao ainda s~ao um pouco raras sem os franceses da minha promo'c~ao terem chegado ainda. N'os conversamos muito com outras nacionalidades, romenos, russos, hispanof^onicos, e quase sempre em franc^es. Mas eles n~ao s~ao franceses, s~ao outros estrangeiros tamb'em, e tentando utilizar as mesmas regras aprendidas nos cursos de franc^es. Falar n~ao 'e assim, e isso pode ser visto quando se conversa com outro franc^es de nossa idade. H'a muitas express~oes, muitas f'ormulas de comunica'c`ao.

Tenho as tardes preenchidas com, na ordem dos dias da semana :Fon'etica francofonica (aulas muito boas e realmente 'uteis, porque as diferenc'as entre os fonemas s~ao grandes e passam despercebidos quando ningu'em te conta isso), Matem'atica aplicada (EDO's e Estat'istica), F'isica (Mec^anica, por enquanto), Matem'atica (An'alise real de ua vari'avel, nas suas formas mais letais), Esporte. As mat'erias s~ao pr'a preencher quaisquer falhas de forma'c~ao, na concep'c`ao dos franceses, e possibilitar o estudo mais ou menos equiparado no tronco comum, que 'e quando encontraremos os franceses e come'ca no meio de Abril. Na Sexta-feira, que 'e o dia do esporte, eu deveria praticar remo, que 'e o esporte que eu escolhi, mas por enquanto temos feito atividades variadas, desde basquete ate' muscula'c`ao, porque os treinos de remo ainda n`ao come'caram. De qualquer forma, tenho levado a vida mais esportiva desde que eu me lembro, tenho corrido alguns dias na semana com outros brasileiros do meu ano, e at'e freq"uentado a academia de vez em quando! 'E um absurdo, talvez eu volte at'e fortinho pro Brasil.

Fui a Paris algumas vezes, j'a, nos finais de semana. 'E uma cidade impressionantemente bonita. AS margens do Sena s~ao preenchidas de pr'edios hist'oricos muito grandes, com p'atios e jardins imensos. A Torre Eiffel 'e realmente grande, e pode ser vista de quase toda a cidade. Voc^e est'a andando, e voil'a! - ela aparece entre duas constru'c~oes, no fundo de uma rua. Voc^e pode segui-la pela cidade para encontr'a-la.

Acho que conheci quase tudo o que h'a de mais falado, menos o Arco da Defesa. Paris n`ao 'e muito grande, acho que deve ter 8 km de di^ametro no m'aximo. Claro, Paris, porque depois h'a outras cidades no entorno. Conheci o Pal'acio de Versailles, tamb'em, que fica a alguns qul^ometros de Paris. N~ao tenho muito a falar de especial sobre os monumentos, s~ao todos realmente muito bonitos. A torre Eiffel 'e megaloman'iaca, s'o pr'a refor'car, e sua presen'ca 'e mesmo chocante na paisagem da cidade, em meio a tanta coisa de pedra um monstro de metal. E, o Moulin Rouge, eu o achei brega e sem maiores atrativos hoje em dia. N~ao o bairro!, porque Montmartre 'e realnente muito legal.

Por aqui, h'a uma coisa muito interessante, os binets. Um binet 'e uma associa'c~ao de estudantes em torno de um objetivo comum, e h'a binets de quase tudo: De m'usica (o de m'usica erudita, o de rock), cinema (pr'a proje'c~ao, e h'a o de produ'c~ao tamb'em, n~ao sei se vai al'em da manufatura de filmes internos, pr'a piada), dan'ca (contempor^anea, de sal~ao), teatro, fotografia; Binet de p'araquedismo (e voc^e pode fazer um curso, com direito a 3 pulos!), Binet Bobar, o respons'avel pelo bar; Binet crepes, Binet muitos esportes diferentes, e mesmo Binets no-sense, como Binet Bon Jour, ou Binet Anniversaire... Ah, e o Binet Latino, que 'e o binet formado pelos luso e hispanof^onicos, respons'avel por organizar churrascos e uma roda de samba, e isso com ajuda financeira da escola: 2500 euros por ano pro Binet latino!! Isso 'e muito legal. Existe muito pr'a se fazer por aqui. Eu fui a 2 apresenta'c`oes, uma do Binet Cirque e outra do Binet Th'eatre, e eu compraria um ingresso facilmente pr'a assisti-las se n`ao foseem gratuitas. Foram ambas muito boas, a produ'c`ao legal, tudo muito bem feito.


Tenho ido a algumas festas que acontecem no campus, e s~ao bem legais. Fui ainda outro dia numa soir'ee (algo como uma noitada) de rock, com uma banda da escola tocando muito rock cl'assico, foi muito bom. Tenho morado num quarto individual, com telefone e banheiro. Comido normalmente no restaurante da universidade, que 'e muito bom e subvencionado pros estudantes.

De objetivo, 'e isso, acho. Genericamente, e superficial... Estou numa crise em rela'c~ao a isso!

Apesar de a primavera ter teoricamente entrado, uma grande frente fria chegou, e no meio nessa 'ultima semana vimos cair gelo. N~ao era neve, era gelo em pedacinhos de mais de 0,5 cm de di^ametro (fa'cam com os dedos pr'a terem id'eia, n`ao eram pequenos). Mas n~ao era duro, n~ao machucava. Mas n~ao era neve, tamb'em! Acho que fez uns 4 graus nesses dias, e por isso o gelo logo derretia.

Hoje, no entanto, acordei com o sol. Espero que lee chegue de vez logo, estou com muita saudade do calor. S'o pr'a registrar, Paris 'e bonita mas, de tudo o que eu vi, o Rio de janeiro 'e infinitamente mais. E isso de forma t~ao objetiva quanto poss'ivel num julgamento de beleza (quero dizer que falo do Rio sem considerar o Jaime e o Bruno, dois grandes amigos de l'a, por exemplo). Talvez a primavera salve a cidade-luz...

Ainda n`ao consigo colocar fotos... s'o mais um tempo!

quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

Qualquer coisa sobre Villeneuve, comunicação, eu mesmo nisso tudo


Esta é a minha ùltima semana a Villeneuve. Na verdade, os ultimos dois dias.

Acho que esta serà minha ultima postagem enquanto estiver a Villeneuve. Faltando pouco mais de um dia prà ir embora, devo conseguir estabelecer uma reflexão qualquer sobre esse primeiro mês por aqui.

Eu anjdei pensandomuito por esses tempos sobre comunicação, e os motivos são mais ou menos obvios. A forma como você se exprime, na sua lingua, é um produto final que torna essa expressão fundamental prà tua identificação, enquanto uma pessoa e enquanto membro de determinados grupos. Aqui, isso fez muita falta.

Aprender a pedir àgua, comida, a atender o telefone e comprar um sapato é apenas o inicio da aprendizagem de qualquer lingua, e tem de ser, mesmo. Uma lingua nasce, pensando no seu surgimento enquanto produto de um grupo humano, com esse tipo de conceito, acredito, e a gente a aprende, quando é criança (ou quando tem de voltar a ser, numa situação como a em que eu estive), primeiramente prà exprimir esse tipo de coisa. Isso tem relação direta, claro, com qualquer coisa de primàrio, também, pro ser humano. Nesse primeiro momento, portanto, em que nosso vocabulario e nossa capacidade de articulação se resume praticamente a esse tipo de situação, é um pouco como se você também se resumisse, nesse periodo, a qualquer coisa dotada somente dessas necessidades.

Depois de um tempo, essa situação não é tão legal assim. O sentimento de não pertencer ao lugar é forte e real porque você não pode se exprimir no conjunto de conceitos daquelas pessoas. os conceitos podem até ser muito parecidos com os da sua lingua natal, mas você não sabe como traduzi-los e a incomunicabilidade é sentida de forma muito forte, no inicio. Não digo que senti falta de uma boa conversa todo o tempo porque tive, nesse periodo, outros brasileiros por perto, mas o tempo em que conversàvamos em português não era muito grande, justamente prà acelerar o processo de aprendizagem, e não era certamente suficiente prà suprir a falta.

Eu jà disse que no nosso jeito de falar esão presentes muitos identificadores, pessoais, de grupo, de contexto social. Isso pode ser sentido de muitas formas. Jà tive algumas conversas sobre isso no Brasil. Eh mais ou menos como a sensação de alguém que começa a ler Nietzsche, e no inicio não entende muita coisa do que està lendo. Depois, começa a entender melhor, à medida em que vai lendo de novo, lendo com atenção, vai assim compreendendo cada vez melhor o que o autor quer passar. Começa, quando conversa com outros sobre o que leu, a utilizar os conceitos do autor, desenvolvidos explicitamente ou não na obra. Nesse ponto, você se acostumou, jà, com o arcabouço conceitual do cara. Ai, tudo fica muito mais fàcil, mas não é porque o livro se tornou mais fàcil. Eh a forma de falar, a forma de passar as ideias que estão mais claras. Você construiu, jà, uma ponte de comunicabilidade com o autor. Sacou, tanto quanto possivel, o mundo do cara, a forma como ele vê e interpreta as coisas.

Isso acontece muito, também, quando você conhece uma pessoa nova, uma daquelas pessoas que passou muito tempo, jà, pensando nas coisas, que jà teve contato com muitas pessoas e obras que também eram humanamente ricas, e absorveu, interpretou aquilo, construiu sobre tudo aquilo. Que, portanto tem um arcabouço conceitual rico, bonito. Quando eu digo nova, é num sentido especifico, quero ser claro quanto a isso. Jà conheci pessoas novas, ricas e muito bonitas por dentro (quando disser "bonitas", o "por dentro" vai ficar subentendido daqui por diante. Tem mais do que praticidade de expressão nisso), mas que não eram muito novas prà mim. Sempre hà algo, e isso é sempre legal, mas muitas vezes o grosso da coisa é jà parecido, e não é dificil estabelecer logo aquelas conversas enormes, trocando figurinhas, filme preferido, livro, cor, mùsica que toca fundo. Acontece, porém, de às vezes você sentir aquela sencação de absoluto estranhamento com relação a qualquer coisa. Não é desprezo, porque você nem sabe o que é aquilo prà poder desprezar. Eh simplesmente algo absolutamente sem sentido prà você. Jà senti isso em filmes, jà senti isso com livros, jà senti isso com pessoas. O sentimento é muito parecido.

Isso me faz muder um pouco de assunto, porque eu pensoque tem mais de uma forma de lidar com o aparecimento do novo. Muitas vezes, e infelizmente, a gente não consegue perceber o novo que tem là. Eh que o novo é realmente muito novo. Você simplesmente não tem conceitos prà nomear, classificar, absorver aquilo. Então, você não absorve. Eh aquele mesmo principio segundo o qual, de tudo o que você vê, você vê, na verdade, realmente muito pouco. Grande parte de tudo o que você vê, das imagens que você percebe, você cria com a cabeça a partir do que você jà tem dentro dela, a imagem que realmente existe è muito simplificada prà poderser absorvida. Eh muito mais fàcil absorver assim. Você olha uma àrvore e, um segundo depois, o que fica dela é "ela é verde-escura, as folhas são médias, ela é alta". Mas, tente se lembrar se o galho curva prà direita ou prà esquerda, as cores exatas de uma folha, que normalmente têm o branco de uma fonte de luz refletida numa borda, o escuro do sombreado em outra borda, e isso é diferente prà cada uma porque cada uma està numa posição diferente... Ela é, no màximo, 80% verde. Mas "verde" é a aproximação com a qual você se contenta.

Do alto de nossa vontade de jà ter conhecido muito do mundo, e do conforto que é a gente continuar com tudo bem organizado na cabeça, a gente muitas vezes acha que não vai existir ninguém muito diferente de tudo o que você jà viu. E esse sentimento nos impede, muitas vezes, de enxergar o diferente nas pessoas. Com o seu conjunto de conceitos, você descreve cada coisa que enxerga e conhece, e com isso reduz muita coisa que é um absurdo de bonita a qualquer repeteco de coisas em sua cabeça, e acha que aquilo é mesmo so mais um mais-do-mesmo, e perde a chance de conhecer qualquer coisa nova, nova.

Hà, porém, vezes em que as coisas não acontecem bem assim. De uma em cada centena, milhar de coisas muito fantàsticas que passam pela sua vida, em uma, por uma sorte imensa, você repara. Você reconhece, num momento de disposição e generosidade com o mundo, alguém que tem algo de absolutamente novo. Idéias nas quais você nunca havia pensado antes. Não é que eu nunca houvesse trombado com elas, mas nunca realmente as tinha absorvido. E, de repente, depois de 1 mês ouvindo aquilo, depois de toda a vida a esbarrar com elas, de repente, um dia, tudo aquilo parece fazer grande sentido, e cada palavra dita pela pessoa se encaixa num todo coerente. Não é como era antes, quando a paixão sincera com que a pessoa defendia a idéia não correspondia ao que você julgava que a idéia valia, ou quando algumas palavras não pareciam estar no lugar certo no discurso mas você julgava que a pessoa havia mesmo as utilizado muito mal. Não, agora tudo é um todo coerente, e tudo faz sentido. Eh novo, diferente, coerente, e não é nada em que você havia pensado antes. E estava ali o tempo todo, e era igualmente diferente o tempo todo.

Esse sentimento, o sentimento de reconhecimento de qualquer coisa absolutamente nova, sempre foi o sentimento mais extraordinàrio de que eu posso me lembrar. Esse, e o sentimento de ter criado ou feito algo realmente bom, são os melhores sentimentos que eu jà senti. Sempre que eu os sinto novamente, é como se tivesse nascido de novo. Me recriado junto com o que eu criei, Me redescoberto com o que eu descobri, nascido de novo junto com o que realmente nasceu de novo e de bonito em mim, novos conceitos, novas formas de abordar o mundo e de pensà-lo.

Eu penso muito na juventude como a capacidade de absorver o novo. Não é adaptação, o que é muito diferente, mas é a criação de novos conceitos, de formas novas de observar e interpretar tudo. E na velhice como estagnação dessa capacidade, ou como a estagnação no confortàvel que é um mundo jà todo conhecido, explorado e entendido. Passar muito tempo sem descobrir nada absolutamente novo é prà mim muito ruim, principalmente quando esse periodo é comparado com os periodos em que você curte algo que nunca havia sentido antes.

Nos ùltimos 3 anos de Brasil, em São Carlos (mais os agregados naturais do nùcleo sancarlense, claro, dos quais eu hoje tambèm faço parte, na qualidade de primeiro correspondente internacional da Rep Baço Reloaded, seguido pela Karina) eu estive integrado num grupo que passou um tempo estabelecendo um grande conjunto conceitual conjuntamente, grupo que eu abandonei no auge, até então, dessa construção. Hà muitas expressões que eu adoraria ter ouvido nesse mês, usado em muitas discussões interminàveis, ouvido muitas piadas de um humor com o qual eu jà sei perfeitamente lidar, entendê-lo, aprecià-lo. Expressões que são de propriedade do grupo, que nos permite identificà-lo e nos sentirmos confortàveis dentro dele, e também expressões que são propriedade individual, pertencem à idiossincrasia (numa escolha de palavras metalinguistica, sendo esse um parênteses metalinguistico e também uma homenagem ao amigo mais idiossincràtico - se a escolha do termo não é correta a mensagem certamente està corretamente estabelecida - que eu jà tive a honra e o prazer de conhecer) de cada um, a imagem de cada um que é facilmente identificada, apreciada, amada. Eu carrego na minha linguagem os identificadores do meu grupo, e carrego também meus proprios identificadores, que não pude utilizar aqui nesse primeiro mês. O quanto é dificil não utilizà-los é algo que ficou bem claro prà mim, nesse periodo.

No fim desse mês, ontem e hoje foram os dois primeiros dias em que eu assisti a reproduções de situações reais à televisão daqui - filmes, séries de TV francesas - e pude compreender razoavelmente quase todas as palavras dos discursos, considerando a velocidade e os coloquialismos das conversas cotidianas, e passei grande parte da noite conversando sobre assuntos diversos, conseguindo fazer as pessoas rirem das minhas historias, entenderem meus sentimentos e impressões de maneira até então inédita. Estou conseguindo, finalmente, começar a estabelecer o meu arcabouço conceitual de maneira mais ou menos completa em francês, me exprimir e me traduzir razoavelmente pros francofonicos. Ontem, houve a festa de confraternização entre as familias de acolhimento, os politécnicos e a escola de linguas de Villeneuve, aqui na escola. E eu fiz um pequeno discurso como o porta-voz dos alunos - simples e pequeno, é evidente que sim, mas correto e proprio prà situação -, de improviso, agradecendo os pais, a escola, deixando uma mensagem de amizade, e fazendo uma piadinha ao fim! Foi um absurdo de legal.

Faz 3 dias que a amendoeira da frente de casa floresceu. A primavera começa a chegar devagar, em Villeneuve. Paul disse que ela demorou, esse ano, a amendoeira costuma florescer no meio de Fevereiro. Mas o inverno parece que està finalmente indo embora. Hoje, eu fui ao campo com a Marise, na casa de uma prima dela, e ela me mostrou um grupo de pàssaros que estão migrandode volta ao Norte, vindo da Africa. Ela me disse que, quando isso é visto, é porque não vai mais fazer muito frio. E eu estou indo prà Paris. Prà falar a verdade, morar com uma familia foi uma experiência ùnica e muito legal, mas cansa muito, voltar a ter de dar satisfações, voltar a ter de dormir cedo, passar fins-de-semana em programas cotidianos. Està acabando na hora certa, quando eu começo a sentir falta de novo da vida de estudante.

Em resumo, estou voltando a morar sozinho; começo a conseguir me exprimir em francês da forma como um dia eu quero me exprimir, plenamente, com minhas idiossincrasias. A fase definitiva da estadia na França parece que vai começar. Devagar, claro, tudo demora um pouco. A felicidade, a primavera, tudo chega devagar, e néao é uma chegada mesmo continua. Mas estou muito otimista quanto à possibilidade de estabelecer uma boa vida por aqui, nestes anos.

Uma ùltima noticia, quanto a estabelecer minhas idiossincrasias: Hoje, descobri, lendo um gibi do Tintin, que a expressão "De qualquer forma" existe aqui... "De toute façon"! Eh oficialmente a minha primeira marca em francês.

De novas noticias, chego Sexta-feira, ao meio-dia daqui, a Paris. Sexta-feira à X, vai ser um dia de boa burocracia francesa. Dai, um final-de-semana prà se situar, e então o inicio das aulas por là na Segunda.

Vou ficar por aqui. Ah! A foto do texto é minha, mesmo. Eu tirei na feira livre daqui, que aliàs é muito legal. Eh tradicional e muito antiga, como muita coisa desse lugar. Acontece na praça central da cidade, todos os Sàbados.

sábado, 24 de fevereiro de 2007

Narbonne











Ai estão:

- O canal de Narbonne, no meio da cidade;

- Uma imagem da paisagem Mediterrânea muito caracteristica: Abaixo, uma parreira, prà produção de vinho. Nessa região, quase toda a zona rural està ocupada por parreiras, que, segundo o tio da Marise, é uma das ùnicas coisas que vão bem por là. Depois a vegetação caracteristica do clima mediterrâneo, "garrigue", esse monte de vegetação baixa, espinhosa, num solo meio pedregoso. Depois ainda, as colinas de pedra clara, quebràveis se você andar sobre elas. No caminho entre Narbonne e a praia de Narbonn, que dista 8km do continente, é sempre assim.

- Uma foto do interior da Catedral de Narbonne. Eu não consegui uma boa foto do exterior dela, então fica o registro de dentro... Prometo me esforçar mais em Notredame, ou ao menos encontrar uma foto na Internet... De qualquer forma, esse interior é muito frio, pois a Igreja é de pedra e muito alta. Muito alta, mesmo. Essa foto dà uma pequena idéia de como é tudo por là. é muito diferente das catedrais no Brasil, por exemplo. essa é muito mais macabra.

- Prà comprovar o "macabra": Esse é um pequeno mosteiro ao lado da Catedral. Nas colunas, reparem nos detalhes dos gàrgulas, acima. Hà, dentro da catedral, um tùmulo de um bispo com caveirinhas desenhadas!

- Uma casa muito bonita no centro de Narbonne, com palmeiras à frente. Aqui em Villeneuve não hà palmeiras, isso é tipico do clima mediterrâneo também.

- O mercado municipal de Narbonne. Essa foto é da banquinha de queijo de leite de cabra, so!! O de queijo de leite de vaca é muito grande,também. Essa é so prà causar inveja... Hà isso em todo lugar, aqui, na França, não so em Narbonne, hehe

O Mar Mediterrâneo!


OK, essa praia tà uma bosta. Fria, o céu tà nublado, a àgua um gelo, totalmente sem graça.

Mas é o Mar Mediterrâneo!!! Então, respeito, por favor

é, eu conheci, na mesma viagem de Carcassonne, o mar mediterrâneo, e uma cidade que se chama Narbonne. Narbonne foi a primeira vila fundada pelo Império Romano fora da Itàlia, ainda na segunda expansão do Império, prà fora dos dominios da "botinha". Hoje, é uma cidade muito bonita, com um canal artificial e uma grande catedral gotica. Alias, a primeira catedral gotica que eu vi por aqui, e isso é realmente muito legal. Não vou falar muito dela por aqui, porque o melhor sobre catedrais goticas com certeza ainda està por vir, que é Notredame, claro, em Paris. Essa sim, acho que vou encher o blog de fotos dela. Por enquanto, ainda estou vendo coisas de Paris por livros de turismo aqui da minha casa. A Karina, certeza que ela tem uma sorte muito diferente da minha, claro. O ultimo scrap dela dizia
"Paris!
Absurdo!!!",

então acho que por là tà tudo bem...

Minha familia por aqui + Carcassone



OK, aqui vai a primeira foto da minha familia aqui na França. Finalmente, eu vou apresentà-los devidamente. Da direita prà esquerda, sou eu, o Paul, a Marise, a Audrey e o Arnaud.

Eu jà falei um pouco de cada um deles por ai, então fica a foto. E a homenagem também, ainda que eles não conheçam esse blog, porque eles são realmente muito legais e acolhedores. A Marise, principalmente, acho que isso jà ficou um pouco evidente aqui. Nessa semana, ela tricotou um cachecol prà mim, por conta do frio de Paris, e hoje me deu de presente um CD duplo da Françoise Hardy (!!!!!!!). Françoise Hardy é uma cantora da chanson française, a mùsica daqui dos anos 60, 70. Um pouco romântica, um pouco influenciada pelas baladas de rock da época. Tem uma mùsica dela, Amitié, que està nesse CD, que està no final do filme "Invasões Bàrbaras".

Nesta Terça-feira, ela também me mavou prà matar aula. OK, eu explico melhor. Ela conversou com o pessoal da escola, e pediu prà mim ir viajar co ela. Eles deixaram. Então, nos fomos, eu, ela, a mãe dela e um tiuo dela, prà 2 mugares muito muito legais: Carcassone e Narbonne.

A segunda foto desse texto é de Carcassone. Não sei se vai dar prà perceber o absurdo de legal que é o lugar, mas Carcassone é uma vila cercada por 2 muralhas. Militarmente, é um sistema que, na Idade Média, era praticamente inviolàvel, pois a passagem de uma muralha deixava o inimigo preso entre a primeira e a segunda, à mercê das forças da cidade, que estariam nas vàrias torres espalhadas pelas muralhas. Dentro delas, estava toda a vila, o castelo do nobre e uma catedral romana, o estilo de construção das catedrais anterior ao gotico.

Outra coisa muito legal nessa cidade é que ela teve grande importância numa historia que eu nunca tinha ouvido: Ela abrigou um foco de resistência, por mais de 100 anos, de uma religião que existiu na Idade Média, CONTRàRIA à Igreja Catolica. Claro que a existência dessa religião, cultuada por muitos nobres da época numa região da França que abrangiu boa parte do sul desse pais, tem fortes razões politicas de oposição ao poder da Igreja. Mas algumas de suas caracteristicas são muito interesssantes.

Essa religião, que surgiu no século XII, em 1165, e so foi eliminada pela Igreja nas Cruzadas do século XIII, tinha seus fiéis se denominando cathares (puros, em grego). Amgumas de suas caracteristicas: O conceito de dualidade, duas forças opostas participando da criação do mundo, trazida do oriente: o bem, ou o mundo espiritual, e o mal, ou o mundo material; grande coerção moral e negação do sensualismo, do casamento e da procriação (!); aprovação do suicidio (!!!!!); abstenção de carne, com exceção do peixe.

Eu achei muito interessante principalmente a aceitação do suicidio. Eu acho que esse é um dos maiores tabus da cultura ocidental. Ainda hoje, é considerado crime no Brasil e em muitos paises. Um assassino, um estuprador, todos podem receber a bênção de um padre quando mortos, mas não um suicida.

Carcassone tem, hoje o status de patrimônio cultural e historico da humanidade, conferido pela UNESCO. A unica coisa ruim é o comércio na cidade, que é realmente grande e descaracteriza um pouco a coisa. Acredito ser um mal necessàrio,; pois é a ùnica forma de se preservar o lugar, mas não deixa de ser um pouco incomodo ver todos os locais da cidade, que não a Igreja e o castelo, serem hoje lojinhas prà turistas. Tudo é organizado, não hà banquinhas de camelô, e na verdade hà até pessoas que habitam o interior das muralhas. Hà uma outra vila, aos pés da cidade cercada, que é até grandinha.

domingo, 18 de fevereiro de 2007

Um pouco do Brasil


Prà mudar um pouco... Pelas minhas saudades, vai um pouco do Brasil. Essa foto é de uma boa noite de férias de Adamantina.

Por aqui, não participo de uma boa noite dessas hà um tempo. E, me desculpe o estranho da foto, mas o significado é claro. Eu estou prestando homenagem, ao lado de amigos, ao Brasil e à nossa vida dai.

Muita vontade de participar dos bons rituais novamente...