sábado, 10 de fevereiro de 2007

Elocubrações sociologicas de bistrot I


OK, vai uma tentativa de registrar o que eu pude ver e entender do lugar em que eu estou nesse pouco tempo.

Antes, essa ao lado é a casa em que eu estou morando durante Fevereiro. Eh bonita, e fica na cidade apesar do grande quintal. Da rua em que ela fica, so se vê uma pequena entrada, e quando você entra, voilà! Eis o grande quintal e a casa no centro.

E o primeiro registro é que o lugar em que eu estou, uma cidadezinha num vale do sul da França, tem costumes muito mais parecidos com os do Brasil do que eu imaginava que fossem. Acho que uma boa frase, prà começar, é "são europeus, mas são latinos também", uma frase que eu tinha ouvido jà no Brasil e que pude constatar aqui.

Eu imaginei um povo bem mais organizado, e por isso bem mais frio no trato. O que eu vi é que hà coisas realmente mais organizadas, como o trânsito, por exemplo. Como a Marise me disse, dirigir é seguir as instruções da sinalização com atenção, e é verdade mesmo; por aqui e em Paris, que é o que eu vi, tudo é muito bem sinalizado.

A organização politica também é diferente do Brasil. A descentralização politica é muito mais forte por aqui. A França é dividida em 22 regiões administrativas desde a década de 80, com o governo do François Miterrand, e elas têm grande autonomia. Eles, às vezes, chamam essas regiões de "pays", um pais. Isso é muito interessante, cada regiãozinha dessa tem uma identidade muito grande, construida ao longo de centenas de anos de historia, e tem hoje autonomia politica prà tomar grandes decisões administrativas sozinhas.

Por outro lado, quando fui ao banco eu vi uma fila muito parecida com uma do Brasil: As pessoas não estavam dispostas em linha, estavam sentadas, e existia aquela sutil desorganização que permitia a conversa, a ligeira confusão quanto à ordem de chegada (so o suficiente prà exigir uma conversa prà colocar tudo em ordem), bem parecido com o Brasil. As familias, os costumes, tudo muito parecido. Na minha casa, o marido e a mulher trabalham, ele no correio, ela é professora primaria; ela cozinha, e cozinha muito bem. O marido lava a louça à noite. Eles assistem à televisão aberta francesa, nada de canais pagos, e os 6 canais abertos daqui são ruins como os do Brasil. Mas eles não gostam de tudo o que passa na televisão. A Marise assiste telefilmes à noite. Telefilmes são filmes feitos prà TV, não passam no cinema e têm orçamento menor que os ultimos. Isso substitui a novela. Eu vi um desses, sobre uma senhora viuva parisiense, uma avo mas ainda bonita, que se apaixonava novamente por um pintor depois de muitos anos sem se apaixonar, e os filhos, jà adultos, dois casados, estranharam no principio. Havia metàforas!! O vermelho no chapeu dela quando ela saiu pela primeira vez com o cara, o netinho oferecendo uma bala vermelha à avo... Era um filme bonitinho. O marido não assiste telefilmes, assiste ao futebol, à previsão do tempo que passa à noite.

A televisão tem programas de auditorio, tem jogos com atores locais, jogadores de futebol, rugby, cantores. Eu vi o Zinedine Zidane num programa de variedades levar facas de um atirador de facas. A televisão daqui passa muitos clips de musicas norte-americanas, e o cinema tem muito filme norte-americano tambem.

Por outro lado, uma cidade pequena como Villeneuve tem um teatro municipal muito bonito, e eu vou ver esse mês um espetaculo de bale contemporaneo e um de musica erudita. A cultura acontece mesmo em cidades pequenas, ainda que pouca gente procure ela, de qualquer forma.

Os carros pàram pros pedestres passarem, ao menos a maioria deles. Hà jovens com motos velozes, motos barulhentas, hà poucos jovens que se vestem com roupas escuras e maquiagem. Hà jovens que passam com o radio do carro ouvindo musica norte-americana alta, rap, musica pop. Muito pouca musica francesa. A Marise me emprestou um CD de musica antiga francofonica romantica pra mim, do Jacques Brel, um belga, e ela traduz comigo as letras. A fiha achou graça, não ouve isso. Arnaud achou legal, mas também não ouve.

A filha, Audrey, estuda direito em Agen, uma cidade media a meia hora daqui, e quer ser tabeliã, trabalhar num cartorio. Isso parece um pouco diferente, os poucos jovens que eu conheci sabem bem o que querem fazer. Eu so conheci jovens filhos de amigas da Marise. Arnaud trabalha com algo de informatica em Toulouse, uma grande cidade a umas 2 horas de Villeneuve.

Os franceses compram muitas flores por aqui, hà 6 floriculturas. Hà mais bancas de jornal, tambem. Hà muitas igrejas, mas não muitas missas. Hà muitos catolicos, mas poucos frequentadores assiduos.

Eu vi alguns imigrantes, mulheres de lenço na cabeça. Hà muitos portugueses por aqui, que vieram na decada de 70, 80, para trabalharem como empregados em casas, em serviços menos bem remunerados.

Eu não vi suburbio em Villeneuve, e mesmo em Adamantina existe um grande suburbio.

Bom, vou parar por aqui. Acho que fui muito descritivo, mas essa era mesmo a minha intenção, evitar os julgamentos tanto quanto possivel. Claro que isso não é possivel, blà, blà, blà, mas tudo bem.

A bientôt,

4 comentários:

Unknown disse...

Ótima descrição! Parece que eu podia ouvir a sua voz vocalizando as palavras, enquanto lia.

Os franceses e francesas são bonitos? :D

Um beijo,

Drixo

Unknown disse...

É Drico, claro. [risos]

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Raul disse...

Drico, eles não são especialmente bonitos não... Realmente, ainda não vi ninguém absurdamente bonito, e a média é mais ou menos como no Brasil, eu acho. Bastante gete bonitinha, poucos muito feios, poucos muito bonitos. Mas estou no Sul, e pode ser que isso mude em Paris. Prà melhor ou prà pior...

Minha descrição tà objetiva, né? Eu queria falar algo mais pessoal, mas ainda não estou me sentindo muito à vontade com o blog. Talvez isso mude.

Um beijo, Drixo, ou Drico, é claro!

r.